domingo, 8 de novembro de 2009

Foge de nós as palavras que poderiam fazer com que tudo que dissemos faça sentido.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"Por quê? Será porque aquilo que foi belo se torna frágil para nós em retrospectiva, por esconder verdades sombrias? Por que a lembrança de anos felizes de casamento se estraga quando se revela que o outro tinha uma amante durante todos aqueles anos? Será porque não se pode ser feliz em tal situação? Mas a pessoa era feliz! Às vezes a lembrança não é fiel a felicidade quando o fim foi doloroso. Será porque a felicidade só vale quando permanece para sempre? Será porque só pode terminar dolorosamente o que foi doloroso de modo inconsciente e inevitável? Mas o que é uma dor inconsciente e invisível?"

Bernhard Schlink - The reader

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cantar. Sorrir. Cortar. Brincar. Cheirar. Correr. Flertar. Amanhecer. Tomar. Voar. Machucar. Andar. Vir. Esquecer. Molhar. Sentir. Apaixonar. Parar. Chorar. Falar. Beijar. Olhar. Fechar. Abraçar. Virar. Escutar. Perder. Crescer. Aguentar. Tocar. Esfriar. Esquentar. Montar. Adiantar. Decifrar. Concluir. Ir. Começar. Descansar. Adiar. Mandar. Esperar. Anoitecer. Brilhar. Pintar. Ler. Girar. Entrar. Sonhar. Sair. Chegar. Observar. Gritar. Lavar. Viajar. Escrever. Alcançar. Receber. Namorar. Atualizar. Ter. Levitar. Usar. Poibir. Comprar. Beber. Ganhar. Secar. Agrupar. Responder. Convidar. Tirar. Repetir. Acabar. Chamar. Sofrer. Esconder. Seduzir. Querer. Imaginar. Acreditar. Encontrar. Distrair. Apagar. Amparar. Assistir. Nascer. Deixar. Sufocar. Aceitar. Criar. Confiar. Tentar. E então Amar. No infinito.

sábado, 26 de setembro de 2009

No meio daquela rua movimentada, surgiu o gnomo com um girasol azul na mão. Sorridente, se aproximou de uma senhora que passava e ofereceu o girasol. A senhora, porém, continuou seu caminho para o nada, ignorando que gnomos existissem e que o girasol não poderia ser azul. Tivesse o gnomo me oferecido o girasol. Eu o teria aceitado.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Alguns minutos podem ser vazios.
E também surpreendentes.
O calor ultrapassa às nuvens, seja de quem forem...
O verão vem mais uma vez
E em uma constante, os mesmos acontecimentos: uma viagem, uma mudança, uma paixão desbotada.
O tempo esquece o que ontem foi feliz.
A memória e o tempo em contraste.
É difícil a escolha entre o frio e o calor.
Vamos retomar a serenidade.
Aquela chuva no rosto nos une.
Corremos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009


Criando sonhos

Se despertarmos agora, vamos escutar as cigarras gritando sua loucura pelos blocos de congreto.
Ninguém acreditava que elas poderiam se impor a esta cidade de simetrias.
Fingimos que não escutamos, e continuamos dormindo.
Imaginando o futuro com nossas lembraças de ontem.
Distante.

domingo, 23 de agosto de 2009

Tenho muitos dentro de mim.
Tenho que ser apenas um, mas sou muitos.
Trago em mim toda a variedade impossível dos coletivos.
Tenho personagens.
Tenho diversos interesses - contrários?
Por quê?
Por que devemos ser sempre os mesmos todos os dias?
O mesmo estilo, as mesmas palavras, o mesmo cotidiano.
Não.
São muitos dentro de mim.
E não se calam.

http://www.youtube.com/watch?v=4n5ZSqMU0Jw

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Do avesso.

“Mas que seja infinito enquanto dure.
Que não seja imortal, posto que é chama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ):
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
E assim, quando mais tarde me procure
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E rir meu riso e derramar meu pranto
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
Quero vivê-lo em cada vão momento
Dele se encante mais meu pensamento
Que mesmo em face do maior encanto.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
De tudo, meu amor serei atento”

Soneto da fidelidade

Morais de Vinícius.

Uma confusão de pensamentos.
Uma mistura de emoções.
E um pouco de medo.

domingo, 26 de julho de 2009




“Prometeu e Epimeteu são duas figuras míticas. São dois deuses gregos. Prometeu furtou de Zeus, o deus dos deuses, a arte do fogo e a luz do saber técnico em benefício da humanidade. Ficar acorrentado por toda a eternidade e ter seu fígado comido todas as manhãs por um abutre foi o castigo que Prometeu recebeu. Prometeu em grego significa, literalmente, “pré-pensador”aquele que pensa, que analisa, aquele que conhece antes de fazer, que pensa antes de agir. Portanto, é prudente, racional. Epimeteu, irmão simétrico de Prometeu, compartilha no universo um outro destino: de ficar solto, errante no mundo, de vagar aleatoriamente. Epimeteu em grego significa “pós-pensador”, aquele que faz e depois pensa, aquele que age antes de pensar. Ao contrário da prudência de seu irmão, a base motivacional de Epimeteu está nas suas pulsões, instintos, paixões. Em si mesmo Epimeteu é a voluptuosidade do desejo, a exuberância da vida diante do racionalismo técnico de Prometeu. Na disputa de poder entre os deuses, em alguns momentos há os que se impõem mais fortemente. Assim, Prometeu pode controlar vidas humanas e expandir seu poder para além do olimpo. Em certos momentos, ele pode se tornar mais forte do que Epimeteu (ou vice versa) no exercício de seu poder sobre os mortais.
Os humanos seguidores de Prometeu são pessoas prudentes, racionais e dominadoras de várias técnicas. Pensam no futuro e por isso antecipam a solução para possíveis problemas. Mas são pessoas que se privam de inúmeros prazeres, que não sabem se lambuzar do mel cuja fonte desconhece.
Os humanos seguidores de Epimeteu são seres improvidentes. Não calculam nem projetam o futuro, preferem o que seja aprazível no momento. Na verdade, são pessoas amantes e inconsequêntes, conhecem pouco as causas das coisas, mas se alimentam das coisas como elas são, se alimentam de sonhos perdidos, esperanças e paixões repentinas. Além disso, são seres alegres e servos inconsequêntes de si mesmos, de seus instintos e pulsões. Embriagam-se em prazeres intensos e fugazes. São soltos. Vivem ao “deus-dará” e a vida sempre dá: dá dor e prazer, tristezas e alegrias. A vida sempre dá e dará. Sozinho no mundo, Epimeteu sofre com o seu destino.
Prometeu e Epimeteu poderiam ser vistos, aqui, como duas imagens metafóricas da condição do ser. Não é à toa que eles são irmãos. Eles representam a unidualidade da natureza humana: homo sapiens/demens, saber/loquem, prosáico/poético. Prometeu e Epimeteu são a contradição complementar um do outro. No mundo antigo, o fígado era considerado o lugar de todas as paixões, desejos, lugar das chamas vivas e dos impulsos selvagens. Fenômeno interessante é que, de acordo com a narrativa mítica, o fígado de Prometeu é regenerado a noite. Por quê? Talvez porque seja a noite, quando o silêncio paira e a mente vacila, que as paixões e as fortes emoções afloram. É a noite quando a conciência conscienciosa pede férias de si mesma, que a regeneração subjetiva do ser acontece em segredo. Nessa pespectiva, Epimeteu seria parte da vida prometeica, seria responssável pela regeneração do fígado de Prometeu. Epimeteu poderia ser visto aqui como o “pré-pensamento”, como o que fica “por trás do pensamento” de Prometeu. Em uma palavra: epimeteu não é o fígado, mas o ser ou substância que faz a cada dia o fígado do irmão se regenerar.
Poderíamos dizer que o abutre que devora o fígado de Prometeu não é outro ser senão sua própria racionalidade técnica, suas cobranças, seu autocontrole. Para Prometeu se orgulhar de sua técnica e astúcia, de sua inteligência e capacidade, ele paga o preço de cortar ou matar, mesmo que dolorasamente, suas próprias paixões, seus instintos e desejos para ser o deus da técnica e da prudência. Mas os deuses também padecem, padecem por serem perfeitos e estarem condenados à condição de imortalidade e imutabilidadede de si. Ora, só suporta o padecimento aquele que é maior que sua própria dor. Somente os defeitos podem ser concertados. A perfeição é o limite da mutabilidade. A transmutação de si ou sua capacidade de se auto-regenerar é o dom humano que nem os deuses têm.
Na narrativa mítica, o fígado pode representar a subjetividade de Prometeu, subjetividade que ele mesmo não pode viver, enquanto que o abutre a tecnicidade que devora o ser, a vida, a subjetividade. É essa tecnicidade que prende o homem, ou os prometeicos, às demandas da eficácia tecnológica do mundo. O pensamento racional/técnico de Prometeu o prende, rasga, pune e devora seu fígado, lugar de sua subjetividade.
Prometeu é o espírito do homem maduro, do pensamento domesticado que tenta tudo classificar para tudo conhecer e controlar. Portanto, os seguidores de Prometeu sonegam a si mesmos, sonegam os pequenos e engrandecedores prazeres que podem ter uma criança ao brincar com a vida. Isto porque eles se torturam, se dilaceram para alcançar seus objetivos, pois sonhos são abstratos demais para eles. Não deixam de ser pessoas medrosas, pois tem medo do fracasso, já que o fracasso é uma das experiências mortais, uma experiência dos não preparados. Eles não admitem a falha e o fracaso porque sabem que um deus pode tudo. Só não podem fugir de seu destino e condição cósmica
Na verdade os prometeicos são seres inquietos porque buscam sua realização mental, cognitiva. Mas sua realização é a conquista do ideal. Eles esquecem que mesmo em uma experiência fracassada e em um ato impensado pode existir emoções indefiníveis, momentos de satisfação absoluta e reconhecimento do que se é. Os prometeicos desenvolvem a mente, enquanto o fígado vai sendo comido. Enchem a cabeça, mas ficam com o coração vazio.
Epimeteu é o espírito aventureiro da criança ou o símbolo do pensamento selvagem que conhece as coisas ao vivê-las para depois classificá-las. Seu destino também é cruel, viver como ele vive é seu padecimento. Epimeteu, diferentimente, brinca e cansa, deita e rola, corre e rasteja, distraidamente goza, confia o futuro ao futuro.
O mito pode ser uma metáfora da vida. Somos seres uniduais. Somos metade Prometeu, metade Epimeteu. Somos razão e desrazão. Somos mortais e semi-deuses. Viver bem é aceitar a vida como ela é. É se aceitar. A vida prometeica é dolorosa. A vida epimeteica é sofrida. A vida não deve negar a si mesma. A vida tem suas dores e delícias. Negar um lado de si é negar-se todo. Quem se nega não vive. Assumir o contrário de si que o constitui é abraçar-se e viver em plenitude.”

Aiton Siqueira



Confiar o futuro ao futuro; é viver intensamente. É não ter medo, é ultrapassar o entendimento. E por as vezes não entender, pode gerar dor, arrependimentos. É o preço da inconsequência e das emoções. Vive além do que se deve viver. No entanto, quem “pré pensa”, não se emociona. Não ri, não ama. E também não chora, não sente dor. Vive em uma linha reta escolhendo e guiando seu futuro. Sem sonhos e sem vida. Ser “pré e pós pensador” é encontrar o equilíbrio. É ter sonhos e poder escolhê-los. É confiar o futuro ao presente. É viver de amor sem sentir dor. É o equilíbrio mais difícil de se conseguir, e por isso aquele que mais buscamos. O equilíbrio entre emoção/razão, mente/coração. Quem consegue atinge a plenitude e pode viver.

domingo, 14 de junho de 2009

Ainda vivo. Até porque de tempos em tempos escrevo aqui qualquer bobagem.
Entretanto, a alienação em certos períodos nos faz bem. Alienação da vida que temos. Quase uma abstinência. Pode gerar crises ou não. Depende de quanto dependente somos.
À quem interessa e se interessa, a compreensão se fará. E todo tempo necessário terão.
Esperar e esperar.
O mundo ainda continua ali. O mundo ali, e outras coisas aqui. Vai se chorando o que há de chorar e rindo o que há de rir, e o que não há de nada, de nada se faz.
Aquilo que é demasiado cansa, e também aquilo que não muda, abandona-se. Ao viver, algumas mudanças vão acontecendo, e podem acontecer ainda mais. E a alienação nisto tudo é apenas uma preparação. É meio que criar cabelos brancos conscientemente. É um período de espera, espera de todos, até que se torne demasiado, e canse.

quarta-feira, 27 de maio de 2009


"No ártico norte americano, vive uma tribo que acredita que todas as coisas que existem na terra tem uma alma em miniatura da mesma forma do corpo que abriga. Um veado tem um minúsculo viadinho dentro, e o homem tem um homenzinho dentro de si. Quando o ser maior morre, a miniatura dele continua viva. Essa almazinha pode se imiscuir em alguma coisa que esteja nascendo ali perto, ou ir para um período temporário de descanso no céu e viver dentro de um espírito grande, e ficar esperando até que a lua o mande de volta à terra.

As vezes, dizem, a lua está tão ocupada com as almas novas do mundo, que desaparece do céu. É por isso que temos noites sem lua. Mas a lua sempre volta, como acontece com todos nós.

Essa é a crença deles"


Micth A.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Danos íntimos

Por certos momentos podemos nos sentir sozinhos, sozinhos a ponto de chorar, mas não permitimos que as lágrimas escorram, pois achamos que chorar não é legal. Nos intimidamos. Por certos momentos também sentimos pulsando uma onda de amor por alguém, mas não dissemos porque o receio do que a revelação pode gerar no relacionamento nos tira a ação. Em nossa intimidade, nos intimidamos.

terça-feira, 21 de abril de 2009

...da simplicidade das coisas...


(...)

Há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.
E é pena, pois com esse nome que tem — e que é a sua própria voz — devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.
O que me leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: "...te-vi! ...te-vi", com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.
Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão — como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? — animou-se a uma audácia maior Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar apenas daqui, dali, invisível e brincalhão: "...vi! ...vi! ...vi! ..." o que me pareceu divertido, nesta era do twist.O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol — que se não há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam os lemas dos seus brasões?

Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar E cantava assim: "Bem-bem-bem...te-vi!" Pensei: "É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!..." Depois, o passarinho mudou. E fez: "Bem-te-te-te... vi!" Tornei a refletir: "Deve estar estudando a sua cartilha... Estará soletrando..." E o passarinho: "Bem-bem-bem...te-te-te...vi-vi-vi!"Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: "Que engraçado! Um bem-te-vi gago!"
(É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...)

(...)

Fragmento do livro “Escolha seu sonho” – Cecília Meirelles

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ao pôr do sol, nossas sombras na areia ficaram marcadas.
E o sol permaneceu por longo tempo deitado sobre o mar.
Assim foi marcada a lembraça.





O sol se foi.
E o que dava luz a lembrança, se acabou.
Era lua minguante.
Na noite escura, nem as estrelas com seu brilho distante, estavam presentes.
E na escuridão, a lembrança se perdeu.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ele gostaria de escrever muitas coisas.
Coisas sobre amor.
Coisas sobre a saudade.
Sobre vontades.
Desejos.
Impulsos.
Verdades e mentiras.

Mas ele aprendeu a se conter.
A esquecer.
A ter e não ter.

Ele também aprendeu a olhar para o lado.
E olhar de novo.
E não olhar.
E a descobrir olhares.

Sim, ele aprendeu a descobrir.
E descobriu tantas coisas....